Platão

     Platão (428 a.C. – 347 a.C.) é o discípulo direto e aluno de Sócrates e fundador da importante escola, a Academia.
      Antes de Sócrates, Platão foi aluno de Crátilo, que foi aluno de Heráclito, o pré-socrático que acreditava em um universo onde tudo fluía. Era de Heráclito, a famosa frase: “não podemos nos banhar duas vezes nas águas de um mesmo rio porque a água não é mais a mesma”. Assim, essa herança filosófica fica marcada nas obras de Platão que mais tarde viria a ser instruído por Sócrates. (revise os pré-socráticos)
     Para Platão, a filosofia tinha um significado um pouco diferente da de Sócrates. Apesar das duas filosofias se comunicarem e em alguns momentos até se confundirem. 
      Lembrando que: a filosofia socrática nos conduz à uma autorreflexão.  (revise Sócrates)

Platão, vintage ilustração gravado. Magasin Pittoresque 1842.

 
i. A filosofia para Platão

     O método de filosofar de Platão, ou a dialética platônica, chama-se Diálogo. 
     A grande diferença entre a maiêutica socrática e o diálogo platônico está na escrita, algo não feito por Sócrates, pois os seus ensinamentos eram orais e pela tentativa de Platão conduzir seu interlocutor a perceber as fraquezas de seus argumentos levando este a entender a necessidade de construir conceitos sobre o que se discute. 
     Platão faz a filosofia como teoria, capacidade de ver a verdade das coisas, em seu sentido eterno e imutável. Sócrates, por sua vez, percebe na filosofia um método de reflexão para individualmente melhorar a compreensão de si e melhorar a cidade, reavaliando crenças e valores. 
     A dialética platônica, no fim das constas é um diálogo fundamentado em conceitos, ou diálogo que nos faz chegar a ideias estáveis e à realidade do mundo inteligível. A dialética empreendida por Platão também é “contra emotiva”, pois é conduzida pela razão contra as paixões (preguiça, luxúria, gozo, apetites sexuais e estomacais, etc.). 
     O importante para ele, seria a formulação de conceitos, tais quais serviriam para facilitar a nossa comunicação. Por este motivo dizemos que Platão era um racionalista. 
     Ele criou a teoria do Mundo das Ideias, ou Mundo Inteligível na qual afirmava que neste mundo tudo era perfeito e imutável, ou seja, no nosso pensamento. Mas também existia o Mundo das Coisas, ou Mundo Sensível, este no qual vivemos. E aqui no Mundo Sensível tudo seria imperfeito e mutável. Daí então, a influência pré-socrática de Heráclito em Platão, ou seja, “no mundo sensível tudo flui, tudo muda, nada é perfeito.”

ii. O Mito da Caverna e a Teoria da Reminiscência

     Para ilustrar melhor essa divisão de mundos Platão criou a Alegoria da Caverna ou Mito da Caverna. 
      Na República, livro VII, Platão trata da “Alegoria da Caverna:

“Havia um grupo de prisioneiros que viviam ali desde o nascimento, todos acorrentados nos braços e pescoços. Todos ficavam sentados de costa para a saída da caverna. Atrás deles havia um muro. Atrás deste muro havia soldados que guardavam a entra e saída da caverna e ali também havia uma grande fogueira acesa que iluminava a parede que os prisioneiros conseguiam enxergar. Estes soldados com o auxílio da luz da fogueira projetavam imagens na parede de dentro da caverna. As imagens que os prisioneiros viam eram consideradas verdadeiras para eles porque eram as únicas coisas que conheciam. Certa vez um dos prisioneiros se solta e foge para longe da caverna. No primeiro momento fica cego por causa da intensidade da luz do sol. Depois de algum tempo seus olhos se acostumam com a luz e ele começa a enxergar o mundo de forma diferente da qual conhecia. Após algum tempo retorna a caverna e conta para seus companheiros o que viu fora da dela. Alguns dos companheiros ficam admirados, outros desconfiam. Estes últimos com medo do prisioneiro que voltara do exterior, se revoltam e decidem silenciá-lo. O prisioneiro que retornou é espancado até a morte.” Resumo da Alegoria da Caverna.  
     Com esta alegoria, Platão tenta mostrar como nós nos comportamos no cotidiano e lidamos com o diferente. Platão afirmava que somente através da razão podemos entender o que nos cerca. Por isso os conceitos nos ajudariam a falar uma mesma linguagem. Além disso, seriamos como os prisioneiros que aprendem só com a experiência, ou seja, enxergamos apenas o que vemos e não refletimos sobre isso. Temos então que treinar a nossa razão, pois o que a visão nos mostra é o que existe no Mundo Sensível e neste caso tudo flui, nada é eterno. 
      Os homens que estão aprisionados de uma maneira que não conseguem enxergar a verdade, apenas observam sombras de algo que já não tem como fonte a verdade absoluta. O sol, mito que designa o Bem Supremo, a verdade está longe do alcance dos homens. Mas a saída da caverna e o encontro com a verdade é um projeto de difícil empreendimento, e que por não ser exclusivamente individual, demanda um movimento de retorno, para tratar com os demais e fazer com que tomem a iniciativa de saírem das correntes das paixões e dependências que os prendem.
      Em resumo, é uma metáfora da condição humana perante o mundo, no que diz respeito à importância do conhecimento filosófico e à educação como forma de superação da ignorância, isto é, a passagem do senso comum (enquanto visão de mundo e explicação da realidade) para o conhecimento filosófico, que é racional, sistemático e organizado, que busca as respostas não no acaso, mas sim na causa. 
     Platão, desta forma, inaugura a sua metafísica (além da física). 
     Para explicar de onde vem o conhecimento, Platão criou a Teoria da Reminiscência. “Para chegar ao Bem, é preciso relembrar... o Bem já está aí.” Nesta teoria ele afirma que a alma pertenceria ao Mundo das Ideias e que ela de antemão já teria aprendido muitas coisas. Ao nascermos, a alma encarnaria no corpo. O corpo, este no qual vivemos pertence ao Mundo Sensível. Tudo o que a alma sabia previamente no Mundo das Ideias foi esquecido quando ela atravessou as águas do rio do esquecimento.
     Aí surge a importância da educação. Para Platão, a escola serve para relembrarmos o que a nossa alma já sabia. Neste sentido o conhecimento vem antes da experiência. Assim atribuímos uma capacidade inata ao seres humanos, o pensar.
     O Inatismo é a capacidade humana de fazer algo sem ter a necessidade de aprender por meio da experiência. 
iii. A arte

     Platão também desconfiava da Arte. Para ele tudo o que existe no Mundo Sensível é imperfeito. E se o artista imita a vida, ao imita-la reproduz na arte a cópia da cópia. Por este motivo, Platão achava que a Arte teria atributos enganadores, pois ela poderia enganar os homens uma vez que somos suscetíveis as paixões percebidas pelos nossos sentidos.

“Os poetas são imitadores de simulacros e por intermédio da imitação não alcançam o conhecimento das ideias como verdadeiras causas de todas as coisas.”


      Simulacro: cópia mal feita, aparência enganosa, imitação;

      Como ele se opõe ao mundo da opinião e da crença, Platão chega ao ponto de reprimir as artes, o teatro e a poesia.

iv. Política

      Na política Platão idealiza um Estado perfeito, contrário à democracia. Ele, assim como Sócrates, sugere a aristocracia. Assim Platão divide o Estado como um corpo humano. Na cabeça os governantes, no peito os soldados no baixo-ventre os trabalhadores. Além disso, essa aristocracia também contaria com um rei-filósofo. 
     A aristocracia nada mais é do que a organização sociopolítica baseada em privilégios de uma classe social formada por nobres que detém as posses por herança. É o monopólio do poder. 
     Para Platão, a democracia era o reino da dóxa (opinião) e não da episteme (conhecimento verdadeiro). Nesse regime político então, imperava a demagogia (poder imoral em nome das multidões, política de facções populares) na avaliação de Platão, teria como consequência futura a tirania (poder soberano e ilegal).

v. Outras informações sobre Platão
  • Além da influência de Heráclito, Platão foi bastante influenciado pela filosofia pré-socrática de Pitágoras. Os pitagóricos acreditavam na reencarnação sucessiva de almas. Essa ideia tem origem oriental – hinduísta por sua vez – que foi intercambiada durante os momentos de florescimento do comércio marítimo das cidades gregas.
  • O platonismo permanece como uma das tendências mestras na filosofia, e teve influência direta para o surgimento do cristianismo, conforme a seguinte apresentação: São Paulo, na bíblia, disse: “A sabedoria dos homens é loucura aos olhos de Deus, e a sabedoria de Deus é loucura aos olhos dos homens”, Platão disse algo muito parecido séculos antes: “A sabedoria dos homens é loucura aos olhos do Sábio e que a sabedoria do Sábio é loucura aos olhos dos homens”.
  • Para Platão, o amor era algo essencialmente puro e totalmente desprovido de paixões, pois estas são essencialmente cegas, materiais, efêmeras e falsas. Aí surge o termo amor platônico. Este amor não se fundamenta num interesse, e sim na virtude. Na teoria do Mundo das Ideias, tudo era perfeito e no mundo real tudo era uma cópia imperfeita desse Mundo das Ideias. Lembra? Portanto o termo amor platônico, ou qualquer coisa platônica, se refere a algo que seja perfeito, mas que não existe no mundo real, apenas no Mundo das Ideias. O amor platônico é entendido como um amor à distância, que não se aproxima, não toca, não envolve, é feito de fantasias e de idealização, onde o objeto do amor é o ser perfeito, detentor de todas as boas qualidades e sem defeitos.

Questionário para FIXAÇÃO!




1) Cite diferenças entre a filosofia Platônica e a Socrática.

2) Por quais pensadores pré-socráticos Platão é influenciado e em quais circunstâncias?

3) Para Platão, por que a Democracia não funcionava? E qual outro regime deveria ser estabelecido e por quê?

4) O que dizia Platão sobre a Arte?

5) Explique resumidamente a moral por trás do Mito da Caverna.

6) Explique a Teoria da Reminiscência.

7) Qual a diferença do Mundo das Ideias e do Mundo das Coisas, para Platão? Cite exemplos.

8) Como é chamada a dialética platônica? E é fundamentada em quê?

9) O que é o Inatismo?

10) Por que a dialética platônica é considerada ‘contra emotiva’?









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