Os Sofistas

     Após o fim das Guerras Médicas (ou Medas), entre Gregos e Persas, a democracia ateniense foi ainda mais valorizada. Para aquele povo, a democracia era o melhor tipo de governo, porém dava muito trabalho, já que era preciso convencer a uma assembleia de cidadãos, e isso só era possível se fosse empregada a boa retórica (arte de falar bem em público, boa oratória).
     Por essa necessidade, de manter a democracia e desenvolvê-la de forma mais efetiva, já no fim do período pré-socrático, surgem os Sofistas. Eles eram professores itinerantes, ou seja, aqueles que percorriam as cidades ensinando, mediante pagamento, a arte da retórica às pessoas interessadas. A principal finalidade de seus ensinamentos era introduzir o cidadão na vida política. Tudo o que se tem desses professores são fragmentos e citações de seus adversários teóricos (principalmente de Platão e Aristóteles) e, por isso, não pode-se saber profundamente sobre o que eles pensavam.
     Eram nomeados sofistas por que o termo originalmente significaria “sábios”, mas este, no fim, adquiriu o sentido de desonestidade intelectual, principalmente por conta das definições de Aristóteles e Platão. Aristóteles, por exemplo, definiu a sofística como "a sabedoria (sapientia) aparente mas não real”. Para ele, os sofistas ensinavam a argumentação a respeito de qualquer tema, mesmo que os argumentos não fossem válidos, ou seja, não estavam interessados pela procura da verdade e sim pelo aperfeiçoamento da arte de vencer discussões, pois para eles a verdade é relativa de acordo com o lugar e o tempo em que o homem está inserido. Eram considerados, por tais fatos, os falsos filósofos.
      O modo de ensinamento desenvolvido pelos sofistas por meio da argumentação, para vencer debates e discussões por meios lícitos ou ilícitos, sem necessariamente descobrir a verdade foi chamada de dialética erística ou apenas erística.

i.                    Características dos Sofistas

     Para eles, as teorias sobre o arché confundiam mais do que explicavam, pois cada filósofo afirmava ser dono da verdade. Como nenhum filósofo provara sua teoria, os sofistas declaravam-se Céticos Dogmáticos ao afirmarem que: “Nada existe; se alguma coisa existisse não a poderíamos conhecer; se a conhecêssemos não a poderíamos manifestar aos outros.” Para o ceticismo dogmático é impossível chegar a verdade. É anticientífico pois trava o conhecimento. No ceticismo dogmático o objetivo não é investigar e obter conhecimento, mas unicamente desacreditar alguma ideia que contrarie um conjunto de crenças pré-estabelecidas e nele, nenhuma nova ideia pode florescer.
     É diferente do Ceticismo Científico ou Filosófico, no qual se usa da dúvida para buscar a verdade, ou seja, vai em busca das respostas em vez de desistir e resistir a qualquer tentativa de busca.

--Conceitos importantes--

Dogma: ponto fundamental de qualquer doutrina (religiosa, filosófica, política) apresentado como certo e indiscutível.

Doutrina: conjunto coerente de ideias fundamentais a serem transmitidas, ensinadas.

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     Assim, para os sofistas, não havia verdade, já que a mesma mudava conforme os filósofos, o tempo e o lugar, juntamente com a moral e as leis. Desta forma eles caracterizaram-se das seguintes formas:

  •  Relativismo: “Tudo é relativo, nada é absoluto”. Para os sofistas, a moral vigente, as leis e a busca da verdade eram necessárias, mas acabavam sendo empecilhos à felicidade humana, pois não há verdade em nada. O que importava na vida era apenas a felicidade.

  • Hedonismo e Egoísmo: Já que a vida é curta, restaria então aproveitá-la da melhor maneira possível, pois para eles, não existiam verdades.  O hedonismo preza que o único bem e estilo de vida é o prazer, e o egoísmo preza que a única regra de conduta é o interesse particular.

  • Oposição entre natureza (phýsis) e cultura (nómos): A maior parte dos sofistas tinha seu interesse filosófico concentrado nos problemas do homem e da natureza. Isso significa que aquilo que é dado por natureza não pode ser mudado, como a necessidade que os homens têm de se alimentar. Apenas o que é dado por cultura pode ser mudado, como, por exemplo, aquilo que os homens escolhem como alimento. Ou seja, todos nós precisamos da alimentação para continuarmos vivos, mas por exemplo na China, onde carne dos cães pode fazer parte do cardápio ou, na Índia, que o homem não pode se alimentar da carne bovina, pois a vaca é considerada um animal sagrado.

  • Existência de deuses: Para os sofistas, é mais provável que os deuses não existam, mas eles não rejeitam completamente a existência, como Platão, por exemplo. Portanto, eles são mais próximos do agnosticismo do que do ateísmo. A diferença entre os sofistas e aqueles que acreditavam nos deuses, é que eles preferiam não se pronunciar a respeito. Mas, se os deuses existissem, eles “não teriam formas e pensamentos humanos.”

  • Alma passiva: A definição de alma para eles era de natureza passiva e podia ser modelada pelo conhecimento que vem do exterior. Isso é muito importante para a prática que eles exerciam, pois se as pessoas possuem almas passivas, elas podem ser convencidas por qualquer discurso proferido de forma sedutora e encantadora. Por isso, era preciso lapidar a técnica a fim de levar as pessoas a pensarem de um modo que favoreça o orador, ou seja, aquele que está falando para o público. A resistência que alguma pessoa oferece a algo que é dito não seria culpa da capacidade de refletir ou questionar da pessoa, mas sim da inabilidade discursiva do orador.

  • Rejeição das questões metafísicas: Os sofistas estavam bastante empenhados em resolver questões da vida prática da pólis. O centro das suas preocupações era aquilo que contribuiria para uma vida melhor com os outros ou atenderia às necessidades imediatas. Por concentrarem seus esforços para pensar naquilo que consideravam útil, questões como a origem do seres, a vida após a morte e a existência dos deuses, ou seja, questões de ordem metafísica, eram rejeitadas.

  • Boa argumentação: A habilidade de argumentar, mesmo se as teses fossem contraditórias, também era um de seus fundamentos. Apesar da dura crítica feita a eles, o trabalho dos sofistas respondia a uma necessidade da época: defender suas próprias ideias e convencer a maior parte da assembleia a concordar com aquilo que os beneficiaria individualmente.

  • Antilógica: Era uma estratégia de ensino comumente usada para ensinar os jovens a defenderem uma posição para, em seguida, defenderem seu oposto. Essa técnica argumentativa foi criticada por Platão e Aristóteles por corromper os jovens com a prática da mentira. Historiadores contemporâneos, no entanto, consideram essa técnica como uma atividade característica do espírito democrático por respeitar a existência de opiniões diferentes.

ii.                   Objetivos dos Sofistas

     O que importava para eles, era ganhar dinheiro através do ensino sobre boa oratória e argumentação. Eles ensinavam seus alunos a vencer um debate ou conquistar o público através da retórica e se fosse necessário, usando até sofismas (argumento que aparenta ser lógico, mas que na realidade é errôneo ou não conclusivo) ou falácias (argumentos falsos mas que possuem estratégias capazes de enganar os menos precavidos).
     Górgias de Leontinos, um dos maiores sofistas, declara plena indiferença para com todo moralismo, ensina ele a seus discípulos unicamente a arte de vencer os adversários. Mesmo que a causa seja justa ou não, não lhes interessa.
     Os sofistas eram metekos (estrangeiros), excluídos da vida políticas de Atenas e eram obrigados a deslocar-se de cidade em cidade. Tal fato contribuiu para a difusão da cultura grega ou helênica. Essa difusão deu início a ideia do Cosmopolitismo (atitude ou doutrina que prega a indiferença ante a cultura, os interesses e/ou soberanias nacionais, com a alegação de que a pátria de todos os homens é o Universo"). O cosmopolitismo é o precursor da atual globalização.

iii.                Principais Sofistas

     Os mais conhecidos sofistas foram Protágoras de Abdera (c. 490-421 a.C.), Górgias de Leontinos (c. 487-380 a.C.), Hípias de Élis, Isócrates de Atenas, Licofron, Pródicos e Trasímaco. Os mais importantes e que devem ser conhecidos a fundo são Protágoras (Não confundir com Pitágoras) e Górgias.

a)  Protágoras: O pensamento mais destacável de Protágoras era “O homem é a medida de todas as coisas.”
           Platão foi um dos principais responsáveis para que Protágoras se tornasse um dos mais conhecidos sofistas, a ele dedicou uma obra inteira, o que mostra que o filósofo, mesmo sem concordar com o sofismo, respeitou o pensamento de Protágoras ao ponto de se dedicar a elaborar objeções.
          Além de ensinar a arte do debate aos jovens em suas muitas visitas a Atenas, Protágoras foi nomeado por Péricles (líder ateniense) para redigir a constituição de uma colônia ateniense.
          Para Protágoras, “O homem é a medida de todas as coisas, das que são como são e das que não são como não são”. Isso significa, em outras palavras, que se uma pessoa pensa que uma coisa é verdade, tal coisa é a verdade para ela. Ou seja, a verdade é subjetiva e relativa, não objetiva e absoluta. Um exemplo cotidiano, se uma pessoa está com febre, e sente frio e calafrios, ela pensa que a temperatura do ambiente está baixa, mesmo que ela esteja em Fortaleza e os termômetros apontem 38 graus.
          Referente ao deuses, Protágoras dizia: “No que diz respeito aos deuses, não posso ter a certeza de que existem ou não, ou de como eles são; pois entre nós e o conhecimento deles há muitos obstáculos, quer a dificuldade do assunto, quer a pouca duração da vida humana”.
          Para ele, também não existe leis eternas ou verdades objetivas, somente opiniões. O homem é a norma que julga, analisa, questiona, invalida ou relativiza todos os fatos, ideias, conceitos, valores, etc. Esta é uma das expressões máximas do subjetivismo e do relativismo filosófico dos sofistas

b) Górgias:Seria errado culpar a adúltera Helena pela Guerra de Troia. A moça, na verdade, foi uma vítima das palavras. Páris, seu sedutor, teria usado o poder da linguagem para manipular a mente de Helena.”
          Foi usando essa argumentação que o sofista Górgias explicou o poder mágico existente nas palavras.
          Considerado o gênio da retórica, o filósofo acreditava piamente na persuasão da linguagem. Era uma espécie de precursor dos publicitários, capaz de sustentar opiniões absurdas e convencer seu público usando apenas o talento argumentativo.
          Pela retórica, Górgias e os sofistas provaram que a inteligência também poderia ser usada para mentir, seduzir e impressionar. Era considerado o sofista, que falava bonito para enganar os incautos.
          Segundo seus seguidores, Górgias teria vivido 108 anos em perfeita saúde e propondo pensamentos radicais. O mais famoso foi o das três teses:

1) nada existe;
2) se algo existisse, não poderia ser pensado;
3) se algo existisse e pudesse ser pensado, não poderia ser explicado;

     A ideia polêmica ganhou várias interpretações. Alguns dizem que foi apenas uma brincadeira feita durante um dos discursos de Górgias para assustar os ouvintes. Já outros garantem que esta era uma forma radical de ceticismo. Esse pensamento de insignificância da espécie humana, enfatizando a ausência de verdade, onde a vida é sem sentido e inexplicada, é nomeado Niilismo.

iv.                Pontos positivos e negativos do sofismo.
           
     O lado negativo dos sofistas foi: o ceticismo dogmático, o hedonismo, o egoísmo, os sofismas e as falácias.
     O lado positivo dos sofistas foi: a retórica, a boa argumentação, a difusão da cultura helênica, o cosmopolitismo, o início do antropocentrismo (reflexão a partir do ser humano), primeiro conceito de cultura (através do ensino e da difusão da filosofia em várias cidades) e o racionalismo (mais adiante na história foram chamados de iluministas gregos.).


PARA FIXAÇÃO!


  • Responda com suas palavras, após a análise e revisão do texto sobre os sofistas, as seguintes questões:
  1. Após qual(is) evento(s) histórico(s) surgiram os sofistas? 
  2. Explique quem eram os sofistas.
  3. Por que os sofistas eram considerados falsos filósofos? 
  4. O que é a dialética erística? 
  5. Descreva resumidamente as características dos sofistas. 
  6.  Explique o que é a antilógica. 
  7.  O que é uma alma passiva? 
  8. Por que, indiretamente, os sofistas têm influência no atual termo ‘globalização’? 
  9. Explique resumidamente os pensamentos dos sofistas Protágoras e Górgias. 
  10. Explique, com outros exemplos, a oposição entre natureza e cultura 
  11. Descreva os pontos positivos e negativos do sofismo. 
  12.  A critério: Pesquise sobre os pensamentos do sofista Hípias de Élis.


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