Teorias Evolucionistas

   Não compreender a Teoria da Evolução e suas implicações para o entendimento do que é o ser humano e o mundo ao nosso redor, é quase tão grave quanto pensar que a Terra é plana. Obviamente, você pode ou não acreditar na evolução, mas é preciso compreender ao menos todo esse conceito, aceito pela comunidade científica, que trouxe o ser humano para o que ele é nos dias de hoje. O mesmo ser humano que vai aplicar suas provas do Enem e de Vestibulares por todo o Brasil, e que cobra frequentemente esse tema.
  Então vamos estudar as duas grandes mentes  por trás das Ideias da Evolução, Jean-Baptiste Lamarck e Charles Darwin.

 
Jean Lamarck (esquerda) e Charles Darwin (direita).

O Lamarckismo

   
   Antes de compreendermos as ideias de Lamarck, devemos entender qual pensamento era aceito na sua época. O fixismo, era o que dominava as mentes naquele período, aceito desde o século 17. Essa teoria propunha que todas as espécies foram criadas tal como eram, através de um poder divino, e permaneceriam assim eternamente, por toda a existência, sendo assim, imutáveis. Também é conhecida como Criacionismo.

   Mas lá em 1809, o naturalista francês, Jean Lamarck, propôs a primeira teoria sobre a evolução das espécies, que posteriormente foi nomeada de Lamarckismo. Porém, ele ainda era preso no conceito da Abiogênese, já que esta tese só foi derrubada por volta de 1860, por Louis Pasteur, citada nos artigos anteriores. 
   Ele dizia que, as formas de vida mais simples surgiam a partir da matéria inanimada por geração espontânea e progrediam ou evoluíam a um estágio de maior complexidade e perfeição.
    Na sua teoria, Lamarck propôs que a progressão dos organismos em geral, era influenciada pela condição do meio ambiente em que eles viviam. Sendo assim, ele defendia o processo de adaptação, pois se o ambiente sofresse modificações, os organismos procurariam adaptar-se. Assim, nesse processo de adaptação, um ou mais órgãos seriam mais usados do que outros. 
    O uso ou a falta do uso dos diferentes órgãos alterariam as características do organismo, e estas características seriam transmitidas para as próximas gerações. Assim, ao longo do tempo os organismos se modificariam, podendo dar origem as novas espécies.  Através desse conceito, podemos definir as duas Leis Fundamentais da Evolução de Lamarck. 

 - Lei do uso ou desuso: Para Lamarck, no processo de adaptação ao meio ambiente, o uso de certas partes do corpo do organismo faria com que elas se desenvolvessem, e o desuso faria com que se atrofiassem. Um exemplo,  que detalha bem o conceito da lei do uso e do desuso, é o crescimento do pescoço da girafa. Segundo ele, devido ao esforço da girafa para comer as folhas das árvores mais altas, ou seja, com o uso do pescoço e com o passar do tempo, essa parte do corpo acabou se desenvolvendo e crescendo. Estas modificações também ocorreriam para que o animal conseguisse se adaptar a uma nova condição ambiental que, no caso, seria a diminuição da vegetação rasteira.


Evolução do pescoço das girafas, ao passar do tempo, segundo Lamarck.




- Lei da herança dos caracteres adquiridos: Essa segunda lei defende que, as alterações no corpo do organismo provocadas pelo uso ou desuso são transmitidas aos descendentes. Existem vários exemplos de abordagem Lamarckista para a evolução, e um deles se refere às aves aquáticas, que teriam se tornado pernaltas, ou seja, ficado com as pernas compridas, devido ao esforço que faziam para esticar as pernas e assim evitar molhar as pernas durante a procura de alimento na água. A cada geração esse esforço produziria aves com pernas mais altas, que transmitiam essa característica para sua geração seguinte. Após várias gerações, teriam sido originadas as atuais aves aquáticas que conhecemos.  

   Na época em que foram publicadas, as ideias de Lamarck foram muito rejeitadas, não pelo fato de  falar sobre herança de características adquiridas, mas sim por falarem em evolução. A sociedade não sabia nada sobre herança genética e acreditava-se que as espécies eram imutáveis. Como a influência da igreja, na época, era massacrante, também foi motivo da rejeição das ideias de Lamarck, vide o conceito do fixismo.
   Somente muito mais tarde os cientistas puderam contestar a herança dos caracteres adquiridos e também com a ideia, a seguir, de Charles Darwin. Um dos questionamentos que derrubaram a ideia de Lamarck era, "se uma pessoa que pratica atividade física, ela tem musculatura mais desenvolvida, então porque essa condição não é transmitida aos seus descendentes?"
    Mesmo estando enganado, Lamarck merece ser respeitado, pois foi o primeiro cientista a questionar o fixismo e defender ideias sobre evolução. Ele introduziu também o conceito da adaptação dos organismos ao meio que foi muito importante para o entendimento da evolução, como ela é hoje.

O Darwinismo

   Charles Darwin, foi um naturalista por excelência e foi o pai da revolução da Teoria da Evolução, afirmando que os seres vivos teriam evoluído de um ancestral comum, herdando pequenas modificações, que se perpetuariam ou não, pela famosa seleção natural.
   Após 25 anos tentando elaborar possíveis explicações para os mecanismos de adaptação, em 1859, Darwin publicou seu livro A origem das espécies, lançando nele a ideia de uma evolução a partir de um ancestral comum, que se daria por meio da seleção natural.
   Explicando os pensamentos de Darwin, vê-se que ele sabia que o potencial de crescimento das populações é muito maior do que o potencial do meio ambiente em gerar recursos para manter e alimentar os indivíduos, assim concluiu que haveria uma competição entre estes indivíduos, sendo que aqueles que apresentam variações que favoreçam sua sobrevivência serão os que conseguirão deixar maior número de descendentes.
   Analisando as taxas de reprodução e de mortalidade em diversas populações e ao comprovar esses dados experimentalmente, haveria indivíduos que por serem diferentes sobreviveriam e se reproduziriam com maior sucesso, passando assim suas características adiante. Após vários anos, em ocorrência desse favorecimento, associado a essa característica apresentada, encontraríamos um maior número de indivíduos descendentes desse indivíduo mais apto ao meio ambiente. Os indivíduos que apresentassem características menos favoráveis encontrariam dificuldade para competir, reproduzir e sobreviver. Dessa forma, através da seleção natural, os indivíduos com características desfavoráveis tenderiam a  desaparecer com o passar dos tempos.
   Em qualquer população encontraremos indivíduos diferentes, seja internamente, seja externamente. Essas variações ocorrem através de mutações ao acaso, mudanças aleatórias, e que, quando esse indivíduo consegue sobreviver e se reproduz, essas informações são transmitidas aos descendentes. Sendo que, uma vez que os recursos do ambiente são limitados e não podem suportar o crescimento infinito de uma população, a ideia da competição entre indivíduos de uma mesma espécie explicaria por que alguns sobrevivem e porque outros morrem. Assim, quem se alimenta e vive mais tem, consequentemente, maiores chances de se acasalar e deixar mais descendentes.
   O Darwinismo é um mecanismo, e este provoca contínuas mudanças em populações de seres vivos.  Podemos decompor esse mecanismo em cinco referenciais.


  •  Variação:  os indivíduos não são considerados totalmente semelhantes, mesmo que tenham o mesmo grau de parentesco. Essa variabilidade contribui para o processo evolutivo ao apresentar em diferentes indivíduos características diversas. 
  • Herança: a forma da passagem das características, de um indivíduo à outro, foi um fator que muito intrigou Darwin, porém ele não conseguiu resposta conclusiva sobre o assunto. A resposta veio posteriormente, com os estudos de Mendel sobre a genética.
  • Seleção: a competição dos indivíduos pelos recursos presente no meio ambiente seria um fator determinante para a evolução de uma espécie, ou seja, aquela que tem mais facilidade de sobrevivência. Conceito da Seleção Natural.
  • Tempo: a seleção natural tem processo em longos períodos de tempo. Temos que entender também, que o ambiente está em constante modificação, ocasionando mudanças contínuas. Até os dias de hoje, estamos propensos a sofrer mutações que evoluam a nossa espécie.
  • Adaptação: seria a característica que favorece a sobrevivência dos indivíduos em um determinado ambiente. Os indivíduos apresentam adaptações diferentes ao mesmo ambiente, mas pela seleção natural, somente aquele que for mais apto ou adaptável, conseguirá sobreviver.
   Darwin observou também, a influência do homem no processo de criação de animais, que ao realizar a escolha de características específicas que atendam à sua necessidade, também realiza um tipo de seleção, que ele chamou de Seleção Artificial. Um exemplo, as diferenças entre os porcos domésticos e os porcos selvagens. Em algum período da humanidade, o ser humano encontrou um porco (que era selvagem) com mutações, que o deixavam mais dóceis e com características agradáveis ao ser humano e colocando-o em cativeiro, o fez evoluir com essas características que trazem ao porco doméstico conhecido hoje. Após isso, Darwin observou que quando fornecemos condições de cativeiro a esses animais, com as condições ideais para sua sobrevivência, todos os indivíduos têm as mesmas chances de sobreviver, alcançando rapidamente um número elevado de indivíduos. Nesse caso a seleção natural não ocorre, pois neutralizamos sua ação.
   Lembrando então, usando o exemplo do pescoço da girafa de Lamarck, para Darwin isso ocorreu porque as girafas com menores pescoços tinham mais dificuldades para alcançar os topos das árvores e consequentemente mais problemas para sobreviver, e as que nasciam com o pescoço um pouco maior tinham mais facilidade para alcançar as folhas, sobrevivendo e reproduzindo, ou seja pela Seleção Natural, passando a característica do pescoço grande, para as gerações futuras.

Evolução dos pescoços das girafas, ao passar do tempo, para Charles Darwin.





   Um outro exemplo, mais recente, que prova essa teoria é o  caso das mariposas Biston Betularia. Antes da primeira revolução industrial na Grã-Bretanha, ou seja, antes do aumento da poluição, a forma mais coletada destas mariposas era a clara, salpicada. Em 1848, perto de Manchester, pela primeira vez foi encontrada uma forma melânica, de cor escura, e esta aumentou em frequência até constituir mais de 90% da população de áreas poluídas em meados do século 20. Em áreas despoluídas, a forma clara ainda era comum. E isso inversamente ocorreu, a partir dos anos 1970, em decorrência de práticas conservacionistas e da consequente diminuição da poluição, a frequência das formas melânicas (mais escuras) diminuíram drasticamente, de cerca de 95% até menos de 10% em meados dos anos 90. Isso ocorreu pela Seleção Natural, pois antes da Revolução Industrial as árvores eram repletas de líquen, que as deixavam claras, assim as mariposas mais claras conseguiam se camuflar e escapar de predadores. Com o aumento da poluição, os liquens desapareceram, deixando as árvores escuras novamente, favorecendo a sobrevivência das mariposas mais escuras.

    
Árvore com líquen favorecendo camuflagem da mariposa salpicada (esquerda) e  árvore sem líquen favorecendo camuflagem da mariposa melânica (direita)


Outras teorias evolucionistas

- Mutacionismo: Teoria desenvolvida por Hugo de Vries, que viveu no ano de 1848 e morreu em 1935. Dentro da teoria do mutacionismo, Vries corrige o erro da hereditariedade onde Darwin e Lamarck haviam se equivocado (caracteres adquiridos), sugerindo que a variação de uma mesma espécie se daria por mutações no material genético.

 - Neodarwinismo, Teoria Sintética ou Teoria Moderna da Evolução: Essa teoria é a junção da adaptação da teoria de Lamarck com a Seleção natural de Darwin e a Mutação de Hugo de Vries. É baseado nas ideias de Darwin e considera que as mutações genéticas e a recombinação genética geram a variabilidade entre as espécies. Essa variabilidade sofre uma seleção natural gerando indivíduos adaptados às condições do meio.
   Uma população é formada por indivíduos resistentes e sensíveis, ou seja, existe uma variabilidade entre os indivíduos. O meio pode eliminar indivíduos sensíveis favorecendo os resistentes e estabelecendo-os como indivíduos selecionados. Esses indivíduos selecionados irão se reproduzir e gerar descendentes promovendo a adaptação dessa espécie à modificação do ambiente.
    Um exemplo clássico são as bactérias resistentes aos antibióticos. O uso inadequado de antibióticos elimina bactérias sensíveis e seleciona as bactérias resistentes. Essas bactérias se proliferam, promovendo sua adaptação aos antibióticos, ou seja, ao meio respectivo.

Resumão

     Antes da primeira teoria da evolução, os  seres humanos tendiam a acreditar no fixismo, teoria de que todas as espécies foram criadas tal como eram, através de um poder divino, e permaneceriam assim eternamente, por toda a existência, sendo assim, imutáveis. Lamarck foi o primeiro a ir contra essa teoria, e propôs o Lamarckismo, defendendo duas leis fundamentas, a lei do uso e desuso (os órgão mais usados se desenvolviam e os menos usados atrofiavam) e a lei da herança de caracteres adquiridos (as características adquiridas pelo uso ou desuso dos  órgãos seria transmitidas aos descendentes do indivíduo). Para Darwin, sua ideia da evolução, ou Darwinismo, era um mecanismo que provocavam mudanças nas populações, e esse mecanismo era baseado em 5 referenciais, a variação, a herança, a seleção, o tempo e a adaptação. Defendia que o meio realizava uma Seleção Natural, ou seja, favorecia a sobrevivência dos indivíduos que tinham  características mais apropriadas a certo meio em um determinado tempo. Os mais aptos viveriam mais tempo e assim, conseguiriam acasalar e pela reprodução transmitiriam as características adequadas para as gerações próximas. O mutacionismo surgiu, consequentemente, com os estudos da genética, sugerindo que a variação e evolução de uma mesma espécie se daria por mutações no material genético. E o neodarwinismo, é a junção de todas essas teorias citadas anteriormente, ligando seus conceitos entre si. Lembre-se, nas provas, em geral, tende-se a inverter os conceitos de Darwinismo e Lamarckismo, justamente para confundir os estudantes. Foque nas diferenças entre essas teorias.

Questionário para fixação!

 

  1.  Antes de Lamarck, qual teoria era a mais aceita?
  2. Explique os conceitos e as leis fundamentais do Lamarckismo.
  3. Por que as ideias de Lamarck foram tão rejeitadas na época?
  4. Explique o 5 referenciais do Darwinismo.
  5. Explique o processo da Seleção Natural.
  6. Diferencie pontualmente o Lamarckismo e o Darwinismo. 
  7. O que é seleção artificial?
  8. O que é o mutacionismo?
  9. O que é a Teoria Sintética?
  10. Procure, no Google, em revistas, ou tente imaginar por si só, através desse processo de seleção natural, como será o corpo dos humanos no futuro? O que evoluirá em nós?



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